Publicado por Redação em Previdência Corporate - 29/11/2013 às 11:43:58

Previdência: Faça você mesmo

Quando se fala em previdência privada aberta no Brasil, as siglas PGBL e VGBL quase surgem imediatamente na conversa. Mas é importante que o investidor lembre que a opção “faça você mesmo” não deve ser descartada a priori, especialmente quando se considera a combinação de gestão passiva de muitas carteiras e elevadas taxas cobradas dos clientes com poucos recursos para aplicar de imediato.

Embora o peso da taxa de administração seja relevante em qualquer investimento, ele se torna ainda mais importante em aplicações de longo prazo, já que diferenças de frações de pontos percentuais na rentabilidade, repetidas por dezenas de anos e com o efeito de juros sobre juros, se transformam em cifras relevantes.

Numa aplicação mensal de cerca de R$ 500 por 360 meses, por exemplo, conseguir uma taxa de retorno líquida de 5% ou de 4% ao ano acima da infl ação resulta em uma diferença de R$ 65 mil. No cenário mais otimista, o montante acumulado ao final do período chega a R$ 407 mil em valores reais, enquanto no segundo caso o total ficaria em R$ 342 mil. Esta diferença, de um ponto percentual, que muitas vezes tem como motivo a taxa de administração, aparentemente compensa o custo de gastar algumas horas atrás de uma opção mais barata para sua aposentadoria. Lembrando que, se a parcela economizada por mês for de R$ 1 mil, o valor da “perda” dobra para R$ 130 mil e assim por diante.

Um levantamento feito pela ValorInveste, com base em dados da Economatica, capturou dados de 334 fundos de previdência aberta no Brasil para mostrar o efeito prático das taxas de administração na remuneração do investidor no período de janeiro de 2011 a setembro de 2013. Foram considerados todos os fundos em operação, com taxa mínima de 0,5%, que tivessem dados para o período todo, incluindo aqueles que foram fechados à captação.

Os fundos de renda fixa – que representam mais de 90% dos R$ 318 bilhões em investimentos de previdência – foram separados em dois grupos: aqueles que cobram 1,5% ou mais de taxa de administração e aqueles com taxa inferior.

O retorno das carteiras foi comparado, então, com a variação do IMA Geral – índice calculado pela Associação Nacional das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), que replica a composição da dívida pública brasileira – em igual período. Após se descontar um custo estimado de 1% ao ano para replicar o IMA via Tesouro Direto e o Imposto de Renda (IR) de 15% (para ser conservador, já que assim, como nos planos de previdência, na aplicação em títulos públicos, só se paga IR na venda ou no vencimento do papel), chegou-se a um IMA acumulado no período de 24%.

A rentabilidade média da carteira com taxa de administração igual ou acima de 1,5% (que na média ponderada fi cou em 2,3%) foi de 20,3%, ou 85% do IMA. Já na amostra dos fundos com taxas abaixo de 1,5%, em que a taxa média ficou em 1%, o retorno médio ficou em 25,8%, o equivalente a 107% do IMA. Se a comparação fosse com o CDI, que foi de 21,9% no período (descontando custos e impostos), o desempenho seria um pouco melhor para os fundos, mas semelhante.

O resultado — a perda do índice de referência quando a taxa é elevada e o ganho no cenário inverso — foi consistente tanto de forma agregada como individual, quando levou em conta as principais empresas de previdência – Bradesco, Itaú, Brasilprev, Santander e Caixa. Isso é um sinal de que, antes de comparar a estratégia de gestão de cada instituição, é importante verificar quanto cada uma cobra para gerir seus recursos. Ainda que não deva ser o único critério de escolha, pode servir para eliminação de opções.

Foi feita também uma simulação envolvendo fundos que possuem parte dos recursos aplicados em renda variável. Neste caso, foi usada como referência uma ponderação estável entre o índice IMA e o Índice Bovespa (Ibovespa), no ponto médio da parcela de renda variável admitida pelo fundo. Para 55 fundos balanceados que podem aplicar de 15% a 30% em bolsa, por exemplo, o peso do Ibovespa na referência ficou em 22,5% e o do IMA, em 77,5%. No período de 2011 a setembro de 2013, essa “carteira” acumulou rentabilidade de 11,5% (após custo estimado de 1% na renda fixa e de 0,7% na renda variável, tendo como base fundos de índice de gestão passiva).

E os resultados foram bastante similares aos observados na renda fixa. Neste caso, como a combinação de renda fi xa e renda variável, em tese, poderia representar um custo maior, a linha de corte da taxa de administração foi de 2%. O grupo que tinha custo maior, com média de 2,8%, teve rendimento médio de 7,1% no período, ou 62% do indicador ponderado de referência. No extrato com taxa abaixo de 2%, que na média acabou ficando em 1,5%, o retorno médio alcançou 12,5%, ou 110% do benchmark.

O custo acaba tendo papel preponderante na rentabilidade para o cliente final. E como os bancos seguem a lógica do mundo econômico, cobram mais de quem tem menos dinheiro e menos de quem tem bastante. “É como comprar arroz. O custo no varejo é maior do que no atacado”, justifica Osvaldo Nascimento, presidente da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi). Segundo ele, é caro administrar um fundo, especialmente se os volumes não forem grandes, já que, além do custo da gestão, existem gastos com taxas de fiscalização, controles internos, auditorias e balanços. Ainda assim, ele diz que as taxas estão caindo e que custos entre 1% e 1,5% ao ano são comparáveis ao que se cobra nos Estados Unidos e na Europa.

Para quem não tem acesso a planos PGBL e VGBL com taxas de administração razoáveis, existe a opção de se virar sozinho, embora dê mais trabalho. “É muito melhor fazer por conta própria. Os planos de previdência são mais caros e rendem menos que os fundos de investimento tradicionais”, opina Keyler Carvalho Rocha, vice-presidente da regional São Paulo do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef) e professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA-USP).

Na área de renda fixa, os títulos de longo prazo atrelados à inflação que reinvestem os juros (NTN-Bs Principal), vendidos pelo Tesouro Direto, são a opção que mais combina com aposentados em termos de horizonte de investimento e de rentabilidade, já que os planos de previdência trabalham com metas de retorno anuais próximas de 5% de juros acima do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que são garantidos por esses papéis quando mantidos até o vencimento. O custo de transação mínimo será de 0,3%, pago para a BM&FBovespa, que se soma à taxa de remuneração da corretora, que pode variar de zero a 0,5% na maior parte dos casos. Os fundos de investimento tradicionais de gestores independentes também são uma opção, de acordo com Rocha.

Na renda variável, uma alternativa barata é aplicar em fundos passivos negociados na BM&FBovespa, que têm taxas de administração bastante competitivas, para os padrões brasileiros. Entre os que seguem o Ibovespa, o mais antigo deles é o BOVA11, da gestora americana Blackrock, com taxa de 0,54% ao ano. O mais novo é o XBOV11, da Caixa Econômica Federal, com custo/ano de 0,50%. Mas existem carteiras que replicam índices como IBrX, Small Caps, entre outras.

Para Rocha, nem mesmo a vantagem tributária seria suficiente para compensar o que ele vê como desvantagens dos planos de previdência, como a tributação sobre o principal no caso do PGBL no momento do saque e a tabela regressiva de IR sobre o ganho, que começa em 35% e só cai para 15% após oito anos, diminuindo para 10% depois do décimo ano. “Num fundo normal, depois de dois anos você já tem 15% de IR”, diz ele, que acredita que isso dá flexibilidade ao investidor. Ele lembra ainda que, do ponto de vista tributário, as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) são mais vantajosas que os produtos de previdência, por serem totalmente isentas de IR, independentemente do prazo, e ainda contarem com seguro do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) até R$ 250 mil.

Ele cita também as taxas de carregamento – pagas sobre o valor aplicado – que alguns planos de previdência ainda cobram, mas que são inexistentes nos fundos de investimentos tradicionais. Em sua opinião, as pessoas optam pelos planos porque não são disciplinadas para poupar, por exemplo, 10% da renda todo mês. "Quem não tem disciplina paga caro por isso", afi rma. O que vale sempre a pena, diz, é entrar no PGBL e no VGBL quando o empregador contribui com 50% ou 100% do valor aplicado pelo funcionário: “A cavalo dado não se olha os dentes”.

Conscientes de que em um cenário de Selic estruturalmente mais baixa os custos elevados podem afastar a clientela, os bancos vêm reagindo a pressões de mercado. De acordo com Altair Cesar de Jesus, superintendente da área de investimentos da Brasilprev, as taxas de carregamento já não existem nos planos empresariais e têm redução progressiva quando o cliente individual mantém os recursos aplicados por dois ou três anos.

No Itaú, os produtos com taxas de administração de 3,5% a 5% (que integraram a base do levantamento) foram fechados para novos aportes e foi feito um trabalho de orientação aos investidores, que resultou na migração de R$ 14 bilhões para fundos com taxas mais baixas. De acordo com a assessoria de imprensa do banco, nos últimos 16 meses 67% das captações de previdência aconteceram em fundos com taxas de até 1,5%.

O superintendente de gestão de ativos de terceiros da Caixa, Marcelo de Jesus, reconhece que a “taxa é um componente importante para a rentabilidade final”. Mas afirma que sua meta como gestor é que a rentabilidade líquida – após taxa – supere ou alcance os índices de referência, e para isso o banco faz uma gestão ativa dos portfólios. O que limita esse trabalho, principalmente na renda fixa, é o perfil do cliente: “A gente percebe que o investidor de previdência é bem conservador e não tem cultura de aceitar volatilidade”, diz ele, justificando por que, apesar de considerar o IMA a melhor referência para planos de previdência, acaba tendo uma exposição proporcionalmente maior a papéis pós-fixados, que seguem o CDI.

Fonte: Valor Econômico - http://www.valor.com.br/
 


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