Publicado por Redação em Saúde Empresarial - 15/07/2015 às 10:57:07

Novos cursos de Medicina poderão causar danos irreparáveis à sociedade

É fundamental compreender que essa interferência autoritária nos processos de ensino e formação médica não resolve a crise da assistência à Saúde e de que a persistência desses equívocos resultará em danos irreparáveis à sociedade, ao prestígio da Medicina e ao bom conceito daqueles que a exercem, alerta o presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Carlos Vital.


O Brasil avança desenfreadamente em número de escolas médicas – 256 até o momento –, constituindo uma realidade que coloca em sério risco a formação, em detrimento à qualidade do ensino. A avaliação é do presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Carlos Vital, que nesta sexta-feira (10) criticou o anúncio dos ministérios da Saúde e da Educação de criação de novos cursos de Medicina em instituições privadas no Brasil.

"É fundamental compreender que essa interferência autoritária nos processos de ensino e formação médica não resolve a crise da assistência à Saúde e de que a persistência desses equívocos resultará em danos irreparáveis à sociedade, ao prestígio da Medicina e ao bom conceito daqueles que a exercem", alertou o presidente.

"Ignora-se o impacto desse processo na segurança do paciente e no ético desempenho da Medicina, surgindo um ciclo vicioso, onde alunos mal preparados serão médicos e educadores com pouca formação e limitações inaceitáveis no exercício das suas especialidades". Ele defende que, ao invés de fomentar a expansão de novos cursos, o governo assuma a responsabilidade de oferecer condições de trabalho, equipe multiprofissional, rede de referência e contrarreferência, possibilidade de progressão funcional e de acesso a cursos de educação continuada.

"Argumenta-se que a abertura dessas escolas fixará futuros médicos em áreas de difícil provimento. Essa é uma falácia populista e demagógica, paradoxal à ética da responsabilidade social e que desrespeita ou desconsidera a qualidade do ensino a ser oferecido", contestou o presidente. Para o médico, uma das principais soluções para a fixação é a criação de uma carreira essencial de estado para a categoria dentro do SUS, que asseguraria vínculo estável – por meio de concurso – e uma remuneração compatível com a formação e a dedicação exclusiva.

Segundo um estudo elaborado em 2012 pelo ex-secretário de Gestão do Trabalho do Ministério da Saúde e professor da Universidade de São Paulo, Milton Arruda, feito com base nos tamanho da população brasileira e de médicos, dentre outros aspectos, não seria necessário nenhuma nova medida além das que já foram tomadas para ampliar o número de profissionais no País nos próximos anos. "Ações que excedam este limite podem trazer preocupante desequilíbrio nesta relação, com repercussões na qualidade dos futuros médicos e do atendimento prestado. Sem qualquer nova medida, em aproximadamente 15 anos já teríamos 4,4 médicos por mil habitantes, taxa superior a qualquer país no mundo", lamento.

Qualidade – Atualmente os 256 cursos de Medicina oferecem, por ano, quase 23 mil novas vagas. No mundo, apenas a Índia supera essa quantidade, com 381 escolas. "São dados que constituem uma realidade fática que coloca em sério risco a formação profissional dos médicos no País", disse Vital.

Ele lembra ainda que, números divulgados no fim de 2014 pelo próprio Ministério da Educação mostram que, de 154 cursos de Medicina já em atividade e avaliados, 27 (17,5%) receberam nota "dois" no Conceito Preliminar de Curso (CPC), indicador de qualidade das graduações, no qual são levados em consideração fatores como titulação dos professores e infraestrutura. Em outras palavras, tais cursos foram classificados como insatisfatórios.

Controle e avaliação – "Defendemos a adoção de eficiente processo de avaliação progressiva dos discentes e dos cursos de graduação, sob rígido controle social, bem como um sistema independente de governo, dotado de credibilidade social, para acreditação das Escolas Médicas", comentou Vital, ao comentar o Sistema Nacional de Acreditação das Escolas Médicas (Saeme), plataforma lançada pelo CFM em parceria com a Associação Brasileira de Educação Médica (Abem).

"O País precisa de atitudes sérias e coerentes com o ensino médico de qualidade e com uma política de Saúde que enfrente as deficiências do sistema público, com efetivo controle e avaliação, aumento do financiamento, melhor gestão administrativa e com o reconhecimento de que o acesso ao atendimento eficaz passa pela valorização dos recursos humanos, com a criação de uma carreira de Estado no SUS e com a promoção de dignas condições de trabalho", asseverou.

Fonte: Portal Bonde


Posts relacionados

Saúde Empresarial, por Redação

Comer durante a noite pode desregular o 'relógio alimentar'

Durante as férias e festas de fim de ano, é comum comer mais tarde do que o usual, ou mesmo no meio da noite. Estudos mostram que essas atitudes podem desregular o 'relógio alimentar' presente no organismo, que controla os períodos em que o corpo se prepara para se alimentar.

Saúde Empresarial, por Redação

O que é um hospital inteligente?

Hospital Inteligente é o novo conceito cunhado pelos americanos para entidades de saúde totalmente digitalizadas. Este parece ser o futuro dos hospitais que buscam qualidade, eficiência e produtividade.

Saúde Empresarial, por Redação

Cientistas desenvolvem vacina que ataca vários tipos de tumores

Um grupo de cientistas dos Estados Unidos anunciou nesta segunda-feira, (12) que desenvolveu uma vacina que ataca vários tipos de tumores, o que poderá ajudar no tratamento de câncer de mama, colo, ovário e pâncreas. As informações são da AFP

Saúde Empresarial, por Redação

Entenda como funciona o tratamento de câncer no Brasil

Enquanto na rede pública brasileira o paciente com câncer enfrenta uma longa espera por consultas, exames e pelo tratamento contra a doença, na rede privada é preciso lidar com a espera pela autorização dos convênios e com a falta de cobertura para remédios oncológicos.

Deixe seu Comentário:

=