Publicado por Redação em Mercado - 29/12/2025 às 14:53:30
Falta de apoio das empresas afasta mulheres da liderança

Mulheres dizem estar menos interessadas em avançar na carreira, segundo um novo relatório da Lean In e da consultoria global McKinsey, enquanto algumas organizações reduzem seus esforços para apoiar o desenvolvimento profissional feminino.
O relatório Women In The Workplace 2025 reuniu respostas de mais de 9.500 profissionais, de 124 empresas. As participantes foram questionadas sobre o desejo de serem promovidas ao próximo nível, e os resultados revelam uma mudança de comportamento.
As mulheres agora têm menos probabilidade do que os homens de demonstrar interesse em promoção, especialmente nos cargos de entrada: 80% dos homens disseram querer avançar na carreira, contra apenas 69% das mulheres. “Estamos em uma encruzilhada”, afirma Sheryl Sandberg, ex-COO do Facebook e cofundadora da Lean In, organização que atua para acabar com a desigualdade de gênero no mercado de trabalho.
Embora a pesquisa faça perguntas sobre ambição há mais de uma década, os resultados deste ano mostram o maior gap entre gêneros já registrado — e é a primeira vez que o resultado é estatisticamente significativo. “Isso não se aplica a todas as mulheres em todas as empresas”, explica Sandberg. “A queda na ambição está concentrada entre mulheres que sentem que seus ambientes de trabalho já não investem em seu crescimento.”
Empresas reduzem programas com foco na liderança feminina
A pesquisa mostra que muitas organizações reduziram programas voltados a apoiar mulheres a avançar na carreira. Em uma parte do relatório, profissionais de recursos humanos foram questionados sobre as políticas de suas empresas. Muitas organizações deixaram de priorizar iniciativas como treinamentos contra vieses de gênero e esforços para fortalecer a diversidade. Quase uma em cada seis afirmou ter reduzido equipes ou recursos dedicados à diversidade e inclusão. Ainda assim, a maioria das organizações entrevistadas afirma continuar comprometida com essas iniciativas.
Rachel Thomas, CEO e cofundadora da Lean In, afirma que, se as mulheres sentem falta de apoio e percebem “ventos contrários” nos níveis mais altos, podem se tornar menos ambiciosas. De fato, os pesquisadores descobriram que mulheres que contam com o apoio de mentores e líderes seniores demonstram o mesmo interesse por promoções que seus colegas homens. “Quando as mulheres recebem as mesmas tarefas desafiadoras, oportunidades de treinamento em liderança e acesso a gestores, essa lacuna de ambição simplesmente não existe”, acrescenta Sandberg.
A pesquisa mostrou claramente que os homens recebem mais desses recursos. Homens em cargos de entrada têm maior probabilidade do que mulheres de contar com um mentor ou defensor da sua carreira (45% contra 31%), receber tarefas desafiadoras (32% contra 22%) e ser indicados para promoção (28% contra 22%).
Talvez o dado mais impressionante seja que homens em cargos iniciais têm o dobro de chances de ocupar posições de gestão de pessoas em comparação com suas colegas mulheres. “Isso significa que eles têm mais chances de desenvolver as habilidades e a exposição que levam ao avanço na carreira”, explica Thomas.
Tendências culturais também podem influenciar
Essa mudança na ambição feminina não ocorre isoladamente. Além de as empresas estarem recuando em iniciativas que ajudam mulheres a progredir em suas carreiras, tendências culturais também as puxam na direção oposta. Alguns argumentam que tendências virais como “lazy-girl job” ou “snail-girl” — funções com menos estresse e mais flexibilidade — indicam que mulheres jovens estão abandonando a cultura da hiperprodutividade. Ao mesmo tempo, as redes sociais difundem conteúdos sobre “tradwives” (esposas tradicionais), que celebram ficar em casa e adotar papéis de gênero convencionais. Até mesmo o conceito de “stay-at-home girlfriends” — mulheres jovens que não têm empregos formais e se dedicam à casa, ao autocuidado e à rotina doméstica, sustentadas financeiramente por um parceiro — passou a fazer parte do debate.
Para além do direito individual de escolher como conduzir a própria vida e a carreira, Sandberg avalia que essas tendências refletem ideias antigas que seguem sendo prejudiciais às mulheres e à sua independência. “Existem mulheres que têm a possibilidade financeira e desejam ser esposas e mães em tempo integral. Essa é uma ótima escolha e pode ser uma vida muito plena e importante”, diz. “Mas a maioria das mulheres não tem essa opção. Financeiramente, a maioria precisa sair de casa para trabalhar e sustentar suas famílias.”
O que as empresas podem fazer para reduzir as desigualdades de gênero
Existem várias medidas que as empresas podem adotar para reverter a queda na ambição feminina e apoiar as carreiras das mulheres. Segundo Thomas, uma das ações mais essenciais é monitorar resultados: quem recebe apoio, quem tem acesso a treinamentos de liderança e quem é promovido. Acompanhar o acesso às oportunidades e garantir equidade é fundamental para criar um ambiente de trabalho em que as mulheres possam prosperar.
O relatório também recomenda que as empresas garantam que decisões de contratação e promoção sejam baseadas em mérito e que capacitem gestores para impulsionar o desenvolvimento de carreira de seus times. “Quando os gestores apoiam o avanço profissional, as mulheres têm uma probabilidade significativamente maior de receber aumentos ou promoções em comparação com aquelas cujos gestores não oferecem esse apoio”, afirma o relatório.
O estudo aponta ainda que, de modo geral, as mulheres se sentem menos confortáveis do que os homens para se posicionar e assumir riscos no trabalho. Thomas destaca que mentoria e apoio é uma das formas mais eficazes de ajudar profissionais a avançar na carreira. No entanto, isso costuma ser prejudicado pela tendência de gestores apoiarem pessoas semelhantes a eles próprios — ou seja, homens tendem a patrocinar outros homens. Para combater isso, ela defende que as organizações incentivem explicitamente líderes seniores a olhar além de seus círculos habituais e impulsionar profissionais com diferentes origens.
“Entendam que o campo de jogo não é nivelado para as mulheres, e o sistema não é justo para elas. E entendam que, para extrair o melhor desempenho de cada funcionário, é preciso garantir que o sistema funcione para todos”, afirma Sandberg. Ela diz estar “preocupada” com o futuro. Os resultados deste ano refletem um retrocesso para as mulheres, já que os avanços conquistados ao longo da última década estagnaram ou foram revertidos. Empresas e lideranças precisam agir para mudar essa trajetória.
Fonte: Forbes Brasil


