Publicado por Redação em Notícias Gerais - 02/10/2012 às 17:02:18

Especialistas divergem sobre ascensão da nova classe média

Especialistas não negam a diminuição da desigualdade social; entretanto, consideram que a renda não é o único fator a ser levado em conta

O diagnóstico de ascensão de parte da população pobre à classe média na última década, como defendido por alguns intelectuais e por técnicos do governo não é consenso entre especialistas em desigualdade e estratificação social.

Esses especialistas não negam a diminuição da desigualdade social, a redução da concentração da riqueza, a melhoria da renda dos mais pobres e o incremento das perspectivas desse setor da população. Entretanto, consideram que a renda não é o único fator a ser levado em conta – pesquisa divulgada pelo governo na semana passada classifica como classe média os que vivem em famílias com renda per capita mensal entre R$ 291 e R$ 1.019 e tem baixa probabilidade de passar a ser pobre no futuro próximo.

“Essa classe média é uma fantasia que está se criando”, critica Eduardo Fagnani, do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Não se define a classe média pela renda, mas pela posição na estrutura populacional”, explica o economista que também participa do núcleo de estudos Plataforma Política Social. Segundo ele, o conjunto da população em ascensão ainda depende muito do sistema público de saúde, previdência e ensino e não tem entre as suas despesas o pagamento de escola particular para os filhos, a manutenção de previdência complementar, acesso a plano de saúde privado ou o costume de fazer viagens ao exterior.

Ele lembra que a noção de classe média é associada a determinados padrões de consumo e de formação educacional “que não temos no Brasil, como amplo acesso ao curso superior”, disse mencionando a situação da Europa Ocidental, anos após a Segunda Guerra Mundial (1939-1956), quando a maior parte da população se torna classe média.

Em linha semelhante, o sociólogo Jessé Souza, autor do livro Os Batalhadores Brasileiros e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), prefere chamar a população em ascensão econômica no Brasil de “nova classe trabalhadora” e critica o ponto de vista estritamente econômico que não considera “condições sociais, morais e culturais”, repassados em família, que permitem a “apropriação” de hábitos e comportamentos considerados como de classe média.

Além da conceituação equivocada, Eduardo Fagnani assinala que atribuir basicamente às políticas sociais (como o Programa Bolsa Família) a razão da ascensão também é um erro. “A meu ver, há uma super valorização das políticas focalizadas. O governo está batendo no bumbo errado”, disse à Agência Brasil. “O principal legado do governo Lula (2003-2010) foi articular mais positivamente a economia com o social. É um erro não atribuir o êxito a aspectos relacionados à política econômica”.

Segundo ele, “a partir de 2006 houve uma melhor articulação entre os objetivos econômicos e sociais. Isso é o ponto central. Houve uma atenção maior no sentido de retomar o papel planejador do Estado, e este coordenar o investimento público e privado (...) As políticas fiscais e monetárias passaram a ser menos restritivas, o crédito aumentou muito, teve o aumento real do salário mínimo; isso caindo o desemprego e reduzindo o trabalho precário”.

Assim como Fagnani, a economista Sônia Rocha, ligada ao Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS) relativiza a importância das políticas sociais e o uso da expressão “classe média".

Ela elogia a “surpreendente” diminuição da desigualdade e elogia o programa Bolsa Família “que não se 'esgarçou' ou se ajustou às necessidades clientelísticas tradicionais, o que é uma excelente notícia e absoluta novidade em termos de mecanismo de política social no Brasil”. Para a economista, entretanto, foi o mercado de trabalho - responsável por 3/4 das rendas das famílias brasileiras - que exerceu o papel fundamental para redução da pobreza e da desigualdade.

Ela lembra ainda da crise econômica mundial que pode ter reflexos na dinâmica da economia nacional. “O que ia bem numa conjuntura externa favorável começou a virar, deixando evidente o dever de casa não feito: investimento cronicamente baixo, deficiências enormes de infraestrutura, despesas elevadas e ineficientes da máquina pública e nível educacional lamentável. Com a crise externa, não tem como o mercado interno segurar o tranco. E a crise externa vai durar... Qualquer coisa que façamos internamente também vai levar tempo para maturar”, destacou.

Fonte: Infomoney|02.10.12


Posts relacionados

Notícias Gerais, por Redação

Com alta da Selic, Brasil volta a ter maior taxa real de juros do mundo

Com a decisão do Banco Central de subir a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual, para 9,5% ao ano

Notícias Gerais, por Redação

Balança comercial tem superávit de US$ 461 milhões na última semana

  Resultado foi divulgado nesta segunda pelo Ministério do Desenvolvimento. Na parcial do ano, porém, saldo ainda é deficitário em US$ 4,63 bilhões.

Notícias Gerais, por Redação

Aumento do juro é o melhor remédio para combater inflação, diz diretor do BC

O diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, afirmou que o aumento da taxa básica de juros é o melhor remédio para combater a inflação,

Notícias Gerais, por Redação

Fazenda prorroga prazos para contribuintes quitarem o PIS/PASEP e a Cofins

O Ministério da Fazenda publicou nesta quarta-feira no DOU (Diário Oficial da União) uma portaria que adia o vencimento do PIS/PASEP e da Cofins (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social).

Notícias Gerais, por Redação

Brasil deve ser o quarto maior mercado de e-commerce em quatro anos

O Brasil é o sétimo país com maior potencial de vendas pela internet. Em 2015, no entanto, o País deve subir para a quarta posição, segundo projeção feita pelo estudo T-Index 2015, realizado pela Translated.

Notícias Gerais, por Redação

Bolsas asiáticas caem com falta de progresso na Europa

As Bolsas de Valores asiáticas fecharam em baixa nesta sexta-feira, com autoridades da zona do euro fracassando em aliviar a preocupação do investidor sobre os rumos da crise de dívida.

Notícias Gerais, por Redação

Dólar fecha a R$ 1,73 em dia nervoso por Grécia; Bolsa cai 1,7%

O "susto" dos mercados com o plano para um referendo na Grécia levou o dólar comercial para o "pico" de R$ 1,763 logo pela manhã. Ao longo da tarde, no entanto, com o esvaziamento das operações na véspera do feriado, a taxa voltou para R$ 1,733 ao final das operações desta terça-feira, em um avanço de 1,7% em cima das operações de ontem.

Deixe seu Comentário:

=