Publicado por Redação em Notícias Gerais - 05/11/2015 às 11:58:32

Auditoria da dívida pública é calote?

Ocupação sem-teto em São Paulo: o País tem um enorme déficit de moradias, mas paga juros bilionários

Brasil pagará centenas de bilhões de juros neste ano, mas o debate sobre o tema é um tabu

Entre janeiro e setembro deste ano, o governo brasileiro pagou a seus credores 510 bilhões apenas em juros, um valor quase dez vezes maior que o gasto com educação. Apesar dos números envolvidos, divulgados pelo Auditoria Cidadã da Dívida, grupo que se dedica a dar visibilidade à dívida pública brasileira, o tema é pouco debatido na sociedade. Para o coletivo, isso se dá em parte por conta de um tabu – costumeiramente, pedidos de auditoria na dívida, uma verificação sobre a regularidade dos débitos, são classificados como uma tentativa de aplicar um "calote" nos detentores da dívida.

Para o movimento, é necessário combater este tabu para discutir o endividamento, um instrumento legítimo que permite ao governo brasileiro tomar empréstimos de bancos (privados ou públicos estrangeiros) para financiar investimentos.

Em linhas gerais, o governo emite títulos e os vende no mercado, conseguindo dinheiro à vista que será pago com juros depois. Desta forma o governo consegue recursos além daqueles disponíveis por meio da arrecadação de impostos. Este dinheiro, em tese, deveria ser utilizado para obras de longo prazo capazes de fazer o País se desenvolver (desta forma o crescimento econômico garantiria o pagamento futuro). Contudo, o que a União tem feito é usar o recurso para despesas correntes.

Em 30 e 31 de outubro, o Auditoria Cidadã da Dívida realizou um seminário em São Paulo com o intuito de discutir o uso da dívida pública nacional. Ali, foram apresentados dados que mostram o crescimento da dívida em 2015, provocado em boa parte pelo aumento da taxa básica de juros, a Selic. Neste ano, a taxa, que rege a correção do dinheiro emprestado, subiu dois pontos percentuais. Atualmente em 14,25% ao ano, o maior índice de 2006, a taxa influenciou o aumento da dívida em 600 bilhões de reais, segundo o grupo.

Fundadora do movimento, a auditora aposentada da Receita Federal Maria Lúcia Fatorelli rejeita a comparação entre uma auditoria e calotes ou moratórias. Segundo ela, é necessário que o País revise e faça uma análise detalhada dos contratos, muitos firmados em um ambiente de promiscuidade entre o sistema financeiro e o governo. "É um esquema que usurpa o instrumento do endividamento público, que deveria ser usado para o nosso desenvolvimento e infraestrutura", disse.

Antonio Carlos Lacerda, economista e professor da PUC-SP, destaca que o aumento da dívida não se deu apenas para ampliar o investimentos do Estado brasileiro. "O problema da nossa dívida é que ela é aumentada somente no sistema financeiro, ela não cresceu porque o Estado brasileiro investiu mais ou ampliou os benefícios sociais. Ela cresceu pelo componente financeiro pelas estratosféricas taxas de juros que são cobradas sobre a dívida pública", disse. "É uma transferência direta de renda de todos nós que pagamos impostos para os privilegiados do sistema financeiro e os rentistas”, afirma Lacerda.

Carmen Cecília Bressane, advogada e coordenadora do movimento em São Paulo, diz que a auditoria poderia tornar dívida mais legítima. "A auditoria mostraria todas as ilegalidades e fraudes que estamos pagando e o absurdo que é pagar os juros mais altos do planeta. A auditoria nos daria propriedade para falar ‘queremos pagar, mas só aquilo que devemos’”, disse.

No seminário, os palestrantes discutiram formas de dar maior visibilidade ao tema, vítima, segundo Fatorelli, de um certo "preconceito com o tema". "Você não vê a grande mídia tratar deste tema, sobre os nossos questionamentos, é um grande tabu", diz.

Uma forma de ampliar o debate é por meio de articulações em Brasília. A Câmara dos Deputados criou no fim de setembro uma subcomissão da Dívida Pública, submetida à Comissão de Finanças e Tributos. O grupo é presidido por Simone Morgado (PMDB-PA) e estuda mecanismos para averiguar a dívida e a possibilidade de redução das cifras. O coletivo também tenta pressionar para a recriação de uma frente parlamentar mista, com deputados e senadores, para tratar do tema.

Um exemplo para a organização, que soma núcleos em 14 estados brasileiros, é a convocação de uma comissão para análise da dívida externa do Equador feita em 2007 pelo governo de Rafael Correa em 2007. "A partir da investigação se apurou tantas irregularidades e ilegitimidades que conseguiram cancelar 70% da suposta dívida", disse Fatorelli.

Fonte: Revista Carta Capital


Seguro Educacional

Posts relacionados

Notícias Gerais, por Redação

Seguro-desemprego terá reajuste de 14,1% a partir de 1º de janeiro

Uma resolução do Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat) publicada na edição desta sexta-feira (30) do Diário Oficial da União estabelece reajuste de 14,1% no valor do seguro-desemprego a partir do dia 1º de janeiro.

Notícias Gerais, por Redação

Economia informal fatura 17,2% do PIB, apontam entidades

Composta pela informalidade e pelas as atividades ilegais, a "economia subterrânea" correspondeu a R$ 653,4 bilhões neste ano e abocanhou uma fatia de 17,2% do PIB (Produto Interno Bruto).

Notícias Gerais, por Redação

Petróleo fecha em alta pelo 2º dia consecutivo em NY e em Londres

Os preços dos contratos futuros de petróleo subiram nesta quinta-feira em Nova York e em Londres pelo segundo dia consecutivo, em um mercado alentado pelo anúncio de uma bateria de medidas de apoio aos bancos na Eurozona.

Notícias Gerais, por Redação

Ataque contra ônibus deixa ao menos cinco mortos no Paquistão

Ao menos cinco pessoas morreram e quatro ficaram feridas nesta quinta-feira pela explosão de dois artefatos à passagem de dois micro-ônibus no noroeste do Paquistão, informou a agência Efe citando uma fonte oficial.

Deixe seu Comentário:

=