Publicado por Redação em Saúde Empresarial - 09/07/2019 às 14:24:06

Amil lança atendimento por videoconferência à revelia do CFM

Serviço é destinado a queixas de baixa complexidade; conselho diz que desrespeito a normas deverá ser alvo de apuração e providências.

A Amil lança nesta segunda (8) um atendimento médico por videoconferência a despeito de o CFM (Conselho Federal de Medicina) vetar consultas a distância, tema alvo de polêmica no país.

O serviço virtual será prestado pela equipe do Hospital Albert Einstein (SP). É destinado aos 180 mil clientes da linha premium da operadora (Amil One) e vai funcionar 24 horas, sete dias por semana.

Segundo Claudio Lottenberg, presidente do UnitedHealth Group Brasil, controlador da Amil, o serviço deve ser expandido a outras categorias de planos conforme a demanda e os resultados da primeira fase de implantação.

O objetivo é atender queixas de baixa complexidade, como gripe, resfriado, tosse, dor de garganta, diarreia, náusea, alergia, dores nas costas e de cabeça. Caso julgue necessário, o médico recomendará atendimento presencial.

Robô conectado à medico transita por corredor do Hospital Israelita Albert Einstein em São Paulo.

De acordo com Lottenberg, o objetivo não é restringir consultas presenciais, mas sim trazer uma ferramenta de comodidade ao usuário, evitando deslocamentos desnecessários e facilitando o atendimento médico em caso de viagens, por exemplo.

Maior operadora do país, com mais de 4 milhões de usuários, a Amil, com a iniciativa, toma a dianteira na polêmica que cerca a ampliação dos serviços de telemedicina desde fevereiro, quando o CFM apresentou resolução que permitia consultas, diagnósticos e cirurgias a distância.

O texto, que chegou a ser publicado no Diário Oficial da União, previa a possibilidade de consultas pela internet após o primeiro atendimento presencial ou em casos de áreas remotas.

Porém, críticas de conselhos regionais de medicina sobre a definição de quais seriam essas áreas, além do temor de banalizar as consultas online e afastar médicos e pacientes, acabaram fazendo com que a norma fosse revogada.

Agora, o conselho recolhe até o dia 31 deste mês sugestões para que uma nova versão possa ser elaborada. Ainda não há previsão de quando o novo texto será apresentado. Nova versão do Código de Ética Médica, publicada em abril último, manteve o veto às consultas virtuais.

Questionado se o novo serviço da Amil não fere regras do CFM, Lottenberg diz que não há nada de ilegal na iniciativa. “No Brasil não há nenhuma lei que proíba expressamente a prática. Ao contrário, a Constituição brasileira assegura ao médico o livre e responsável exercício da prática profissional.”

Segundo ele, as discussões no CFM em torno da resolução da telemedicina precisam evoluir. “O atendimento virtual é uma evolução da medicina. [a resolução] Foi decidida de uma forma, depois teve um imbróglio de natureza política e essas questões políticas travam o país.”

Para Lottenberg, o conselho deveria estar focado em dois aspectos principais que envolvem a telemedicina, a segurança dos dados de saúde do paciente e a qualidade do serviço prestado.

“São duas preocupações permanentes nossa e estarão presentes [no novo serviço]. Estamos trabalhando com um grupo restrito de usuários e com um parceiro, o Einstein, que tem tradição e sabe fazer isso. Telemedicina não é para médico inexperiente, é para médico bem formado”, afirma.

O serviço de telemedicina do Einstein existe desde 2012 e oferece atendimentos virtuais em diversas áreas voltados a pacientes (reeducação alimentar e cessação do tabagismo, por exemplo), empresas (seguimento de pacientes crônicos) e hospitais (como urgência e emergência, teleoncologia e teleneurologia).

“A telemedicina já esta acontecendo principalmente para quem tem recurso. Quem não tem acesso, é porque não tem recurso. A sociedade quer isso. Imagina o quanto essa ferramenta ajudaria o país.”

Procurado para opinar sobre o novo serviço da Amil, o CFM preferiu se manifestar por meio de nota. Diz que o atendimento presencial e direto do médico em relação ao paciente é regra para a boa prática médica prevista no Código de Ética Médica.

“O CFM, como ente autorizado a disciplinar o exercício da medicina, reitera sua percepção de que o exame médico presencial é a forma eficaz e segura de se realizar o diagnóstico e o tratamento de doenças”, diz a nota.

O conselho afirma que trabalha para a atualização da norma de 2002 que trata da prática da telemedicina.

“Até a aprovação de novas regras, as que estão em vigor devem ser observadas pelos profissionais e estabelecimentos de saúde, sendo que o desrespeito deverá ser alvo de apuração e outras providências”, diz o comunicado.

No Estado de São Paulo, 82,6% dos médicos já usam tecnologias no dia a dia para a assistência aos pacientes, segundo pesquisa da APM (Associação Paulista de Medicina) e do Global Summit Telemedicine & Digital Health.

A maioria (78,69%) é favorável à utilização do WhatsApp e ferramentas semelhantes na relação com os pacientes.

No vácuo da regulação, médicos e pacientes estão expostos a situações de risco, desde o vazamento de dados nas mídias sociais até erros de interpretação da conduta médica sugerida pelo profissional.


Entenda o atendimento médico a distância


Como era até então
Telemedicina era realizada apenas entre médicos, como uma segunda opinião. Alguns hospitais universitários já usavam a modalidade, mas em caráter experimental


O que estava em análise pelo CFM

  • Nova resolução definia a prática de teleconsulta e estabelecia regras, como necessidade de que o primeiro atendimento fosse presencial. Estabelecia ainda intervalo de no máximo quatro meses para consultas presenciais —para pacientes crônicos, por exemplo.
     
  • Também previa que atendimento fosse gravado e armazenado seguindo critérios, com proteção garantida para sigilo. Caso paciente não concordasse com a gravação, consulta não poderia ser realizada
     
  • Caso o médico prescrevesse exames e medicamentos, documento deveria conter dados de identificação, registro de data e hora e assinatura digital do médico
     
  • Na telecirurgia, os procedimentos deveriam ocorrer em espaços com infraestrutura, com médico que operasse equipamento robótico e outro que acompanhasse o paciente no local

 

 

Fonte: Folha de São Paulo


Seguros Pessoais

Posts relacionados

Saúde Empresarial, por Redação

Farmacêutico poderá prescrever remédios que não exigem receita

Categoria inclui analgésicos e antitérmicos; CFM critica a resolução

Saúde Empresarial, por Redação

Proposta popular sobre SUS tem 700 mil assinaturas

O abaixo-assinado de iniciativa popular que pretende tornar lei a obrigação de a União destinar 10% de suas receitas brutas ao sistema público de saúde chegou ao Fórum Social Mundial Temático (FST), que está sendo realizado em Porto Alegre.

Saúde Empresarial, por Redação

Identificado anticorpo humano que mata vírus da dengue em duas horas

Representantes do Ministério da Saúde participaram nesta quarta-feira de uma roda de conversa sobre sistemas universais de atendimento em saúde, que inclui o Sistema Único de Saúde (SUS).

Saúde Empresarial, por Redação

Descoberta científica pode levar a vacina contra melioidose

Uma descoberta científica pode levar à produção de uma vacina contra a melioidose, doença tropical mortal que infecta milhões de pessoas no mundo, segundo estudo publicado publicado na revista científica Science.

Deixe seu Comentário:

=