Publicado por Redação em Mercado - 07/12/2021 às 19:34:04

Ajudar a indústria



Cesar Alarcon, CEO e vice-presidente da Pirelli na América Latina, diz, em entrevista exclusiva na série UOL Líderes, que o país precisa ter um ambiente de negócios mais previsível. Para ele, é o momento de começar a fazer o planejamento pós-pandêmico estimulando o setor privado.

O executivo fala da importância das reformas do governo, da necessidade de produzir pneus mais reforçados para as condições das rodovias brasileiras e dos investimentos da empresa em tecnologia, principalmente para a produção de componentes para carros elétricos.

Nascido em Buenos Aires (Argentina), Alarcon diz que vivemos a maior revolução do automóvel nos últimos cem anos e reforça que o planejamento seja muito bem realizado pelos governos, porque as montadoras estão definindo os seus planos de investimento dos próximos dez anos.

Ouça a íntegra da entrevista com Cesar Alarcon, CEO e vice-presidente da Pirelli na América Latina, no podcast UOL Líderes. Você também pode assistir à entrevista em vídeo no canal do UOL no YouTube. Continue nesta página para ler os destaques da conversa.

Estímulo e previsibilidade

UOL - Como a instabilidade econômica está afetando os negócios da Pirelli no Brasil?

Cesar Alarcon - Seguimos com muita atenção. É um momento em que não só as montadoras, mas também empresas como a Pirelli definem um plano de investimento estratégico para os próximos cinco ou dez anos.

Há condições que podem favorecer não somente a Pirelli, mas todo o ambiente de negócio, como a reforma tributária, a reforma da administração pública, que viriam para facilitar o acesso ao crédito, mas também dar previsibilidade ao ambiente de negócios.

Tem ocorrido uma volatilidade muito particular nesse momento, principalmente pelo fator da pandemia. É o momento de começar a fazer o planejamento pós-pandêmico, fazer uma reativação, um estímulo para o setor privado, especialmente um setor que gera tantos empregos no Brasil.

A questão política interfere na volatilidade da economia?

Os aspectos políticos e econômicos estão muito relacionados. Não é somente um aspecto que acontece no Brasil, mas há uma grande volatilidade neste momento praticamente em todos os mercados do mundo.

Isso não tem particularmente a ver com o "core" do governo, mas com um momento extremamente volátil, um momento em que as garantias de toda a cadeia de fornecimento estão sendo muito desafiadas.

Olho 2022 com otimismo. É um momento também de fazer essas reformas estruturais porque outros mercados competidores do Brasil já estão fazendo.

A Pirelli é assim:

 

Fundação

1872 (Milão, Itália); 1929 (Brasil)

Funcionários

6.500 (Brasil); 8.000 (América do Sul; 30,5 mil (mundo)

Unidades

2 indústrias (Brasil); 3 indústrias (América do Sul); 18 indústrias (mundo); mais de 17 mil pontos de venda em 160 países

Faturamento (2020)

4,3 bilhões de euros (R$ 26,87 bilhões/mundo) (data da conversão 17/11)

Lucro

42,7 milhões de euros (R$ 266,83 milhões/mundo) (data da conversão 17/11)

Porcentagem de mercado dominada pela empresa/carros 0 km

20% (mundo); 33% (Brasil)

Principais concorrentes (Brasil/mundo)

Bridgestone, Continental, Goodyear, Michelin

Sustentabilidade

60% até 2030 (uso de materiais renováveis); 100% até 2025 (energia de fontes renováveis); neutralização de carbono até 2030; 43% até 2025 (redução do uso de água)

 

Reformas progressivas

UOL - Por onde deveriam começar as reformas estruturais para fazer a economia crescer?

Cesar Alarcon - Gostaria de ver pequenos passos, mas compartilhados pela maioria do espectro político e que sejam consistentes nos próximos períodos.

As reformas tributária e fiscal são faladas no Brasil há 20 anos, no mínimo. Não desejo pessoalmente uma reforma tributária perfeita, mas desejo mudanças progressivas e que possam ser consolidadas no tempo independentemente do "core" do governo.

Qual sua opinião sobre os investimentos públicos em educação no país?

O futuro é a educação. Somos uma empresa em que a inovação tecnológica e a sustentabilidade econômica estão fortemente associadas à tecnologia e definem o nosso modelo de negócio.

Em definitivo, estamos dizendo que as bases educativas dos mercados onde estamos presentes serão umas das chaves fundamentais da nossa estratégia de investimento para os próximos anos.

Algumas montadoras de veículos deixaram de operar no Brasil. Isso prejudicou os negócios da Pirelli?

Estamos na maior revolução do automóvel nos últimos cem anos. Neste contexto, é importantíssimo que esse planejamento seja muito bem percebido pelos governos porque as montadoras estão definindo os seus planos de investimento.

Há decisões ocorrendo em todo o setor. Nos próximos dez anos, conheceremos novos atores dentro da indústria de automóveis, muito mais jovens.

Pneus reforçados

UOL - A falta de infraestrutura de estradas e ruas impacta nos preços dos pneus?

Cesar Alarcon - Não é somente o custo que impacta sobre o desenho da tecnologia do pneu. O pneu no Brasil está reforçado, mas não é só no Brasil. Temos outros mercados no mundo onde o pneu está particularmente reforçado, com alterações na especificação do produto, principalmente no composto da banda de rodagem, para estar adequado ao tipo de mercado onde será vendido, tendo em consideração as condições do contexto das rodovias e do clima local.

Quais os outros mercados em que os pneus têm que ser reforçados?

Há alguns mercados em que temos características particulares. Os pneus Pirelli, sejam feitos na Europa, nos EUA, na China, têm os mais altos níveis de qualidade e podem ser utilizados em qualquer um desses mercados.

Na América do Sul, há uma preferência maior por pick-ups, muito mais do que nos países da Europa. Lá esses veículos são muito raros. Nos EUA, temos as grandes pick-ups.

Quais os projetos da Pirelli para o próximo ano?

O Brasil é parte fundamental na definição das estratégias de negócios Pirelli no mundo. Teremos de novos produtos com mais conteúdo tecnológico para o consumidor brasileiro, mas também gerando know-how de exportação para mercados mais avançados do mundo.

Nanotecnologia e menos carbono

UOL - E o que podemos esperar sobre novas tecnologias nos produtos da Pirelli?

César Alarcon - Darei uma premissa muito importante. Os pneus vão continuar sendo pretos e redondos. Mas a verdade é que por trás desses pneus haverá um conteúdo tecnológico extremamente complexo.

Estamos trabalhando há muito tempo em nanotecnologia, nos componentes, nos aspectos relacionados à performance do veículo, que gere sempre menos impacto ambiental e, a partir disso, temos definidas metas muito concretas.

A Pirelli, em 2030, será uma empresa de carbono neutral. A partir de 2025, mais da metade dos nossos produtos [60%] será desenvolvida para os veículos elétricos. Esse tipo de tecnologia é revolucionário, não somente para o automóvel, mas também para os componentes que estão associados.

Como assim revolucionária?

O veículo elétrico requer pneus que suportem um peso muito maior, desta forma o pneu precisa ter características que ajudam no controle do veículo. Ao mesmo tempo, o pneu requer menos resistência ao rolamento, garantindo que as baterias tenham uma maior autonomia.

Além disso, o pneu precisa ser silencioso, pois o veículo elétrico não gera barulho. Estes pneus irão satisfazer os modelos elétricos, e a Pirelli do Brasil terá a grande vantagem de ter essa tecnologia para produzir seja para o mercado doméstico, mas também para os mercados mais importantes do mundo, para onde exportamos.

Carros elétricos

UOL - O mercado brasileiro está muito atrás do mercado internacional em relação aos elétricos?

César Alarcon - As previsões da indústria e de especialistas são que, para 2030, 20% da produção de veículos no Brasil seja de tecnologia elétrica, principalmente híbrida, e 30% para 2035, se não acontecer uma tendência de inércia natural. Atualmente, a produção de carros elétricos no mercado brasileiro é inferior a 1%.

Os governos terão uma função determinante a partir de estímulos, não somente para as indústrias, mas também em termos de infraestrutura elétrica, que requer essa tecnologia.

O Brasil tem características para ter uma indústria desenvolvida aproveitando o máximo da tecnologia do flex, mas ainda assim vai chegar aos veículos elétricos.

Muitas montadoras paralisaram parte da produção por falta de semicondutores. Essa paralisação impacta a indústria de autopeças? Como será 2022?

Certamente a paralisação das montadoras nos impacta. Como atuamos? Temos programas de muita sinergia vertical, seja com as montadoras, mas também com nossos clientes da revenda, antecipando paradas de linhas ou aumentos da necessidade de autopeças.

Vejo uma situação de falta de semicondutores ainda presente para 2022, mas as montadoras e as empresas de autopeças que conseguirem investir de modo mais eficiente em toda a cadeia de fornecimento irão liderar o mercado.



Fonte: UOL


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