Publicado por Redação em Gestão do RH - 15/01/2025 às 08:53:05

O que os nossos familiares esperam das empresas onde trabalhamos?

Imagine uma cena típica de almoço em família. Todos à mesa, comendo enquanto a conversa corre solta. Independente do cardápio, é comum que algum parente compartilhe aspectos do seu emprego, comente sobre seus colegas de equipe, seu chefe e sobre os produtos e serviços que a empresa comercializa. Como costumam ser esses comentários? Apreciativos? Depreciativos? E qual a importância desses testemunhos? Quando ouvimos um parente falar sobre sua experiência de trabalho, o que mais nos chama a atenção? O que soa como mais relevante para nossos ouvidos?

Agora imagine um vínculo bem próximo de parentesco com essa pessoa: você é seu cônjuge, irmão, irmã, filho, filha, pai ou mãe. Como esses comentários mexem com você?

Para compreender como as famílias enxergam as experiências de trabalho dos seus parentes, a Winx, uma HR Tech focada em pesquisas de clima, engajamento e cultura, realizou uma pesquisa em 2023, e que foi realizada pela segunda vez entre agosto e outubro de 2024. Por meio de uma pesquisa on-line, a Winx ouviu neste ano 3.261 familiares de funcionários de 15 empresas em torno de um questionário com 20 questões. As respostas seguiram a lógica da Escala Likert (aquela que vai do concordo totalmente ao discordo totalmente) e produziram resultados de favorabilidade. Os funcionários destas 15 empresas trabalham em 19 estados do Brasil.

De acordo com a pesquisa a qual a Exame teve acesso exclusivo, existe um impacto relevante sobre como a família enxerga a empresa em que um parente trabalha, e não é difícil entender o porquê. Veja as principais conclusões.

O contrato psicológico

Nossos familiares têm com a empresa onde trabalhamos um contrato psicológico. De forma sutil e implícita, é como se trabalhassem na mesma empresa onde trabalhamos. Ainda que indiretamente, sentirão o que sentimos. Moldarão em suas mentes uma reputação herdada da nossa experiência.

As interações com a empresa onde nosso parente trabalha podem ser inúmeras. Ele pode ser funcionário em uma empresa que interage com a organização onde trabalhamos. É sua cliente, fornecedora, financiadora, patrocinadora ou investidora. Podemos consumir produtos e serviços dessa empresa onde nosso familiar está empregado. Dependendo do que ouvimos sobre essa marca – sobretudo de fontes afetivas – teremos mais ou menos simpatia por ela.

Quando um membro da família compartilha percepções negativas da empresa onde trabalha, difícil ficarmos indiferentes. Deixaremos de recomendá-la, não mais compraremos dela, ou até desistiremos de investir em suas ações na Bolsa. Esses são apenas alguns exemplos dessas consequências.

Por favor: cuidem da saúde do meu familiar

Além das 20 perguntas fechadas, os familiares dos funcionários dessas empresas usaram campos em aberto para responder livremente três perguntas:

  • Como você descreve a experiência que seu familiar tem de trabalho em seu atual emprego?
  • O que você acha que poderia melhorar no trabalho e na empresa do seu familiar?
  • O que você acha que são os aspectos positivos do trabalho e da empresa do seu familiar?

A inteligência artificial da Winx analisou as respostas fechadas e os comentários qualitativos das famílias, considerando o seguinte recorte: se o familiar pudesse dar uma declaração hipotética e ideal sobre a experiência do seu parente, o que diria? A empresa dos sonhos para as famílias seria assim descrita:

“Desde que meu cônjuge iniciou nesta empresa, sinto que ganhou uma nova consciência sobre saúde integral a partir das várias iniciativas das quais participa por lá. Percebo que está com mais atenção à qualidade da sua alimentação e do seu bem-estar físico geral.”

“Quando estamos em família, é comum mencionar a conexão que tem com seus colegas de trabalho. Sinto que a empresa cuida tanto das condições físicas para trabalhar quanto dos relacionamentos.”

“Meu cônjuge sente orgulho das suas realizações e admira os produtos e serviços da empresa. Sente-se reconhecido, valorizado, desafiado e sempre aprendendo.”

“A flexibilidade de trabalhar 2 dias da semana em home office é fundamental para meu parente se estressar menos com o trânsito e com a insegurança da rua.”

O texto acima leva em conta o perfil quantitativo mais representativo do familiar dessa pesquisa: é cônjuge do gênero feminino, de 26 a 39 anos, que convive com seu parente e que se declara independente financeiro dele.

“A família se engaja mais com a empresa do seu parente quando percebe sua atenção para a saúde integral dos seus funcionários”, afirma Rogério Chér, sócio fundador da Winx. “Saúde foi a preocupação principal das famílias em 2023 e aumentou de modo significativo em 2024”, diz Chér.

A empresa que ganha o coração da família

O tipo de empresa que ganha mentes e corações das famílias, de acordo com a pesquisa, tem programas de conscientização para cuidados médicos, suporte para uma rigorosa disciplina com checkups regulares, além de orientação quanto à dieta alimentar dos seus funcionários.

“É como se a família dissesse o seguinte: aqui está meu parente para trabalhar com vocês. Cuide dele por nós. Incentive seus cuidados com saúde e alimentação. Empresas assim ganham enorme simpatia dos familiares!”, afirma Luís Alexandre Chicani, CEO e fundador da Bencorp, patrocinadora da pesquisa da Winx.

Duas Rodas, empresa de aromas para alimentos, foi uma das companhias que participou da pesquisa e que aposta em ações voltadas à saúde e bem-estar dos funcionários, como programa diário de ginástica laboral e o programa “Rumo à vitalidade”, que oferece acompanhamento personalizado para grupos de risco, como pessoas com sobrepeso, obesidade ou doenças crônicas.

“Esses funcionários participam de atividades conduzidas por nutricionistas, educadores físicos e psicólogos, aprendendo a adotar uma rotina mais saudável, com alimentação equilibrada, prática de exercícios e controle do estresse”, afirma Clodoaldo Heidemann, gerente corporativo de relações humanas das Duas Rodas.

Ainda sobre incentivo à alimentação saudável, a Duas Rodas oferece em seus restaurantes um cardápio balanceado desenvolvido por nutricionistas e que respeita restrições alimentares e necessidades de dietas especiais. “Também realizamos palestras sobre a importância de uma dieta equilibrada, com reforço e dicas na nossa rede social interna”, diz Heidemann.

Flexibilidade é a chave 

Outro ponto de destaque dessa pesquisa é o trabalho remoto. Embora as famílias compreendam a relevância do trabalho presencial, é evidente o quanto apreciam empresas que oferecem alguma flexibilidade.

Quando o familiar tem parente com trabalho parcialmente remoto, suas respostas são em média 7 pontos percentuais mais favoráveis do que aqueles que trabalham 100% presencialmente. “O raciocínio é que trabalhar alguns dias em casa traz menos fadiga, mais conexão com a família e uma vida mais saudável”, afirma Chér.

Grupo HDI, por exemplo, oferece como benefício flexibilidade no horário (desde que seja cumprida a jornada de trabalho) e aposta no regime de trabalho híbrido, segundo Delane Giannetti, diretora de talentos da HDI Liberty.

“Trabalhamos duas vezes na semana fisicamente no escritório, o que tem ajudado no bem-estar dos funcionários. Valorizamos os trabalhos que sejam colaborativos no escritório, como encontros com clientes e reuniões de equipes”, afirma Giannetti, que acredita que a felicidade do funcionário impacta tanto internamente, quanto os clientes e a família. “Queremos oferecer um ambiente em que o funcionário tenha prazer de trabalhar”.

Por trás desse desejo, novamente a saúde integral dos parentes ganha relevo. Quando podem organizar parte da semana trabalhando remotamente, isso traz impactos altamente desejados pelos familiares:

  • Mais tempo para as pessoas em casa;
  • Tempo de qualidade para equilibrar temas pessoais e profissionais;
  • Alimentação mais saudável;
  • Melhor qualidade do sono, como consequência disso tudo.

Dormir melhor, aliás é um significativo desejo dos familiares. Uma das perguntas dessa pesquisa com pior avaliação se refere ao impacto do trabalho na qualidade do sono dos parentes funcionários. Segundo a Dra. Monica Andersen, Biomédica, Professora da Universidade Federal de São Paulo e Diretora do Instituto do Sono (também patrocinadora da pesquisa Winx), a pessoa que chega em casa e não dorme direito perturba a família toda.

“O sono é 1/3 das nossas vidas. E, quando esse 1/3 não está na quantidade e na qualidade necessárias, o funcionário e toda a sociedade sofrem com o desfecho dos outros 2/3, que é a vigília”, afirma Dra. Monica. "Quando aumentamos a quantidade e a qualidade do nosso sono, temos uma qualidade de vida melhor."

Para explicar a importância do sono na saúde e produtividade dos funcionários, o Grupo HDI realizou uma semana com palestras sobre saúde física e mental, e um dos especialistas que participou foi o do sono. “Por meio dessas palestras orientamos os nossos funcionários a como ser mais saudáveis, inclusive quando o assunto é o sono, algo tão importante para a saúde integral”, diz Giannetti. “Em caso de diagnósticos como apneia do sono, encaminhamos o funcionário para um tratamento”.

A pesquisa mostra que existe uma expectativa das famílias das empresas que empregam seus parentes atuarem na qualidade do sono dos seus funcionários. São fartos os problemas ligados a este tema: insônia crônica, sonolência durante as atividades diurnas em razão de noites mal dormidas, roncos, apneia do sono e uso inadequado de remédios para dormir.

“O que vale mais hoje são as medidas de higiene de sono. Como estamos vivendo cada vez mais, é também importante vivermos melhor e o sono é, sem dúvida, um componente fundamental. Isso determina em grande medida como o indivíduo comparece ao trabalho no dia seguinte”, afirma Anderson.

O segredo das empresas mais queridas pelas famílias

O que a pesquisa realizada pela Winx traz como evidência pode ser colocada em forma de pergunta: como a empresa empregadora do meu parente pode apoiá-lo em sua saúde integral?

O apoio à saúde mental tem ganhado a atenção de muitas empresas, como o da Duas Rodas. “Promovemos palestras regulares sobre o cuidado com a saúde mental e capacitamos nossos líderes para estabelecer um clima de confiança e empatia. Assim, nossos colaboradores se sentem mais à vontade para buscar ajuda quando necessário”, afirma Heidemann.

Mas para as famílias, a preocupação vai além da saúde mental – tão em foco desde a pandemia. Esperam apoio das empresas também para o bem-estar físico dos seus entes queridos.

Para ajudar na área de saúde integral, o Grupo HDI aposta em atividades de saúde física, como Gympass e até uma ergonomista local, que ajuda os funcionários a manter uma postura saudável frente ao computador, conta Giannetti. “Dentro do ambiente de trabalho, a profissional orienta o tempo que precisamos levantar, como esticar o corpo e qual postura manter para não ter dores musculares, seja para profissionais no escritório ou em home office”, afirma.

Fini, empresa de balas e doces, também possui programas de qualidade de vida, como “Melhor Maternidade e Paternidade” com encontros trimestrais e acompanhamento durante todo o período gestacional. “Tem sido um programa super diferenciado para a família, tanto para as mulheres quanto para os homens”, afirma Elisangela Lima, diretora global do grupo the Fini Company. A companhia também aposta em um programa de acolhimento para as doenças crônicas e também o “Melhor Abraço” que é o programa de apoio no caso de perda de pessoas na família, além de oferecer assistência ao empregado e sua família para os cuidados com a saúde financeira, social, psicossocial e jurídica.

Os benefícios visíveis

No final, a pesquisa com essas organizações evidencia benefícios corporativos - quando se coloca atenção também nos familiares dos funcionários. De acordo com a Winx, essas 15 empresas obtiveram ótimas respostas para os seguintes temas:

  • As famílias reconhecem que seus parentes funcionários demonstram orgulho das suas realizações profissionais;
  • Sentem que seus familiares se relacionam bem com seus colegas de trabalho e com os princípios da empresa;
  • As famílias percebem que seus parentes admiram a marca, os produtos e serviços da empresa onde trabalham;
  • Sentem que seus parentes percebem que o trabalho que fazem serve a um propósito maior;
  • Os familiares declaram que seus parentes reconhecem trabalhar em empresas inclusivas e respeitosas.

“Algumas empresas irão olhar para essa pesquisa com indiferença. Outras, lançarão iniciativas nesta direção e ampliarão não apenas o engajamento dos seus funcionários, mas também estenderão esse efeito para suas famílias”, afirma Chér.

As iniciativas internas dessas companhias criam um ciclo virtuoso entre empresa, funcionário e família, afirma Chér, que liderou o estudo. “Um ciclo, aliás, muito positivo. Trata-se da conquista de um grupo seleto de empresas: aquelas que se tornam as mais queridas pelas famílias.”

Fonte: Exame


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