Publicado por Redação em Gestão do RH - 11/06/2025 às 07:51:38

Entre diplomas e habilidades: o que as empresas precisam enxergar na hora da contratação

Vivemos uma transformação profunda no mundo do trabalho. Automação, inteligência artificial e novos modelos de negócio estão exigindo algo diferente das empresas — e, principalmente, das pessoas. Nesse novo cenário, não basta saber onde alguém estudou ou em que empresa trabalhou. O que importa ainda mais é saber o que essa pessoa é capaz de fazer.

Cursei Engenharia Mecânica na faculdade e tenho orgulho da formação que tive, da dedicação envolvida e de tudo que aprendi ali. A universidade me ensinou a investigar problemas com profundidade, analisar dados e pensar em soluções práticas — habilidades que continuo usando até hoje. Mas, com toda sinceridade, não aplico cálculo estrutural ou termodinâmica no meu trabalho, já que minha jornada profissional acabou me levando para outros caminhos.

O que uso todos os dias são outras habilidades: comunicação, visão estratégica, empatia, tomada de decisão sob pressão, liderança. Algumas eu desenvolvi nos estudos, outras aprendi na prática, com tentativa e erro. Nem tudo que é essencial no trabalho cabe dentro de uma grade curricular. E, ainda assim, há competências que deveriam ser parte de toda formação, em qualquer área — como saber ouvir, pensar criticamente e trabalhar em equipe. São essas habilidades que conectam o conhecimento técnico à realidade do dia a dia profissional.

Nos últimos anos, tenho reforçado uma ideia que carrego com convicção: precisamos contratar mais por habilidades e menos por diploma ou curso de prestígio.

Já contratei, por exemplo, um profissional com formação em Direito, com histórico profissional construído na advocacia, para atuar em vendas. Por quê? Porque ele era excelente em argumentação, escuta ativa e construção de confiança — habilidades-chave para vender soluções complexas. O diploma não dizia isso, mas sua trajetória sim. E o resultado confirmou a escolha: o profissional teve um ótimo desempenho, mostrando que as habilidades estavam ali.

Não se trata de desvalorizar a educação formal, muito menos desincentivar os estudos. Aprender é vital. O que estamos querendo desmistificar é a crença de que só é possível aprender de forma válida se vier carimbada com o nome de uma grande universidade e que o diploma define, de forma definitiva, o que uma pessoa pode ou não fazer. A verdade é que muitos profissionais constroem trajetórias brilhantes em áreas diferentes daquelas em que se formaram, justamente porque desenvolveram habilidades que são valorizadas em múltiplos contextos.

E aqui vale um olhar para a realidade brasileira: acessar ensino superior de qualidade ainda é privilégio de poucos. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 19,7% da população brasileira com 25 anos ou mais havia concluído o ensino superior em 2023. Isso significa que, ao olharmos apenas para diplomas, podemos estar deixando de fora profissionais extremamente qualificados, com experiências riquíssimas, aprendidas na prática ou em cursos complementares.

A contratação por habilidades está se transformando em uma tendência global, pelos benefícios que a iniciativa traz para as empresas, profissionais e setores. Segundo o relatório Skills-First, do LinkedIn, mais de 45% dos recrutadores utilizaram dados de competências dos profissionais para preencher vagas em 2024 — um aumento de 12% em relação ao ano anterior. E essa abordagem tem mostrado resultados concretos: recrutadores que adotam critérios baseados em habilidades têm 60% mais chances de realizar contratações bem-sucedidas, de acordo com um estudo da plataforma publicado em 2022.

Quando olhamos para o mercado de trabalho de forma mais ampla, é preciso considerar o profissional como um todo. A formação acadêmica continua sendo essencial — em muitas carreiras, como medicina, engenharia e direito, ela é necessária e até obrigatória. Mas, cada vez mais, é a combinação entre conhecimento formal e habilidades práticas que determina o sucesso de uma trajetória. Acabei de entrevistar o Doutor Drauzio para um episódio do 3 in 3, e ele mesmo falou que o médico que não tem habilidades humanas, para ele não é um bom médico.

Nesse sentido, um(a) enfermeiro(a), por exemplo, precisa saber mostrar sua capacidade de tomar decisões sob pressão e escuta ativa; um(a) mecânico(a) precisa destacar sua habilidade em diagnóstico técnico, solução de problemas e atenção aos detalhes; e um(a) profissional da beleza necessita valorizar sua gestão de tempo e fidelização de clientes. São essas habilidades — reais, práticas, transferíveis — que constroem resultados. E elas não aparecem sozinhas em um diploma.

Minha formação acadêmica, por si só, não me garantiu o cargo que ocupo hoje. Mas reconheço que meu caminho foi possível porque tive acesso a oportunidades que, no Brasil, ainda são uma possibilidade para poucos. Trajetórias assim, me lembram diariamente que muitos talentos não chegam aos mesmos espaços simplesmente porque nunca lhes foi dada a chance de mostrar do que são capazes. É por isso que acredito tanto no potencial de enxergar o profissional como um todo e da contratação por habilidades: ela não apenas amplia o olhar das empresas, como ajuda a equilibrar o jogo.

O Brasil precisa enxergar, valorizar e realizar contratações que avaliem o profissional de forma mais ampla. Isso não apenas democratiza o acesso a boas oportunidades, como também permite que as empresas encontrem talentos incríveis onde menos esperam. Talvez essa seja a principal habilidade que precisamos desenvolver como sociedade: a de enxergar além do óbvio.

Fonte: Forbes


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