Publicado por Redação em Gestão do RH - 10/11/2020 às 16:04:49

Entenda o que faz um especialista em biossegurança



Existem pelo menos 150 espécies de bactérias nas suas mãos neste momento, de acordo com um estudo da Universidade do Colorado. E provavelmente são bactérias bem diferentes das que habitam as minhas mãos. A pesquisa identificou 4.700 tipos diferentes em apenas 51 pessoas. Só cinco dessas espécies estavam presentes em todos os indivíduos.

Ou seja: cada ser humano, mesmo que saudável, carrega nas mãos um zoológico de micróbios que, dependendo da circunstância, podem se tornar uma ameaça à saúde. Por isso que sua mãe sempre pediu para que você lavasse as mãos antes das refeições – ainda que ela não tivesse acesso a estudos de biossegurança de universidades estrangeiras. É por isso que a OMS faz o mesmo pedido hoje, no que diz respeito ao Sars-Cov-2, o novo coronavírus.

Com a exceção de épocas de epidemia generalizada, porém, essa realidade da biologia passa despercebida. Tão despercebida quanto uma espécie de profissional que age quietinha para diminuir os riscos de contaminação: o especialista em biossegurança. Ele trabalha para evitar possíveis contaminações por bactérias e vírus. Sua função é pôr em prática uma série de protocolos de segurança que limitam o contato entre humanos e micro-organismos. Se hoje você tira os sapatos para entrar em casa ou dá banho de álcool em gel nas compras de supermercado, está seguindo esse tipo de protocolo, criado por especialistas em biossegurança.

“É muito comum a gente pensar nesse profissional dentro de ambientes hospitalares e de laboratório. Mas, se você vai fazer a manutenção de um ar-condicionado, por exemplo, pode ter a atuação de um engenheiro especializado em biossegurança para evitar a disseminação de bactérias ou fungos”, diz Jorge Mesquita, gerente médico da Vendrame Consultores (uma consultoria de segurança do trabalho).

Conhecendo o inimigo

Ou seja: o campo de atuação é bem amplo, então o caminho para se tornar um especialista em risco biológico muda de acordo com a área. Médicos, enfermeiros, dentistas e farmacêuticos já saem da graduação preparados, porque no próprio curso eles passam por mais de um módulo de biossegurança, nos quais aprendem protocolos de higienização, esterilização e sobre o uso de equipamentos protetivos. Esses cuidados fazem parte da rotina da área da saúde, afinal.

Já aqueles que se aventuraram por outros setores, como engenharia, turismo ou até beleza e gastronomia, podem recorrer a uma capacitação, que varia desde cursos livres até uma pós-graduação formal. O Sebrae, por exemplo, oferece palestras sobre o assunto para orientar os pequenos e médios empresários que voltaram ao atendimento presencial durante a pandemia.
Para Adriana Silva, professora no curso de Biossegurança do Senac EAD, a demanda por profissionais que entendem desse tema está em ascensão. “Em todos os locais que exista qualquer tipo de atendimento, como supermercado ou recepção, os responsáveis precisam saber as noções básicas de prevenção para evitar que doenças se propaguem.”

Preparando o batalhão

A paulistana Simone Tinelli, de 44 anos, é uma especialista em biossegurança na área de beleza. Em 2002, ela fez um curso de cabelo e maquiagem no Senac, e já mostrava uma preocupação especial com o assunto. “Eu ficava me questionando sobre a melhor forma de fazer a higienização dos pincéis, escovas e lâminas. Mas, naquela época, isso não era muito falado nem existiam cursos específicos”, relembra.
Quando começou a trabalhar em salões de beleza, ela adotou os protocolos básicos de biossegurança – uso de máscara, luvas e lâminas descartáveis. Além disso, Simone também trabalhava com equipe de filmagem de comerciais e, muitas vezes, precisava improvisar para manter tudo limpo durante as sessões. “Imagina você fazer uma gravação no meio do mato, onde não tem nem um pote de água filtrada para poder lavar a mão. Então sempre estava com álcool em gel ou lenço umedecido; o pessoal até achava que eu tinha TOC [transtorno obsessivo-compulsivo], porque ficava limpando as mãos toda hora.”

Hoje, após nove meses de pandemia, o pessoal que esteve nessas equipes de filmagem deve saber que Simone não tinha TOC; era simplesmente uma pessoa preocupada em atuar na prevenção de doenças. Ela continuou sua profissão, sempre buscando informações sobre biossegurança por conta própria. Mas a especialização de fato só veio em 2017, quando resolveu abrir uma barbearia e foi para a Inglaterra estudar na London School of Barbering. Lá na terra da rainha, ela deixou de ser um peixe fora d’água. A preocupação com a saúde já era um foco central nos salões de beleza britânicos, assim como a oferta de produtos e equipamentos – tanto que na capacitação como barbeira ela passou pelas aulas de biossegurança que os alunos da área da saúde sabem de cor.

“Hoje, a gente está falando da Covid-19. Mas a verdade é que os salões de beleza possuem uma alta taxa de transmissão de outros patógenos graves, como o HIV e os vírus das hepatites.” De fato, em 2014, uma pesquisa do Hospital Emílio Ribas identificou que uma em cada dez manicures de São Paulo estava contaminada com o tal vírus de hepatite (8% com o da hepatite B e 2% com o da hepatite C) por causa do uso de alicates e navalhas contaminadas com sangue de clientes. Desde então, a autoclave (máquina de esterilização para alicates e navalhas) passou a ser item obrigatório dentro dos salões. Mas vale notar que isso protege mais as clientes que as profissionais. A cliente tem a segurança de usar um material limpo, mas ainda pode contaminar a manicure com seu sangue caso esteja infectada – daí a necessidade de luvas e máscaras para essas profissionais.
Simone, enfim, se jogou de cabeça nos estudos com o objetivo de mudar a realidade dos estabelecimentos brasileiros. “Comecei a me aprofundar no assunto, a pesquisar e entrar em contato com os órgãos competentes, como a Anvisa, para estimular as discussões.” Hoje, além de gerenciar sua barbearia, ela oferece consultoria de biossegurança para outros salões e empresas do setor de beleza.

No entanto, Adriana, do Senac, considera essa parte educacional um dos maiores desafios da profissão, porque montar um relatório de riscos e indicar o melhor protocolo de segurança é até simples. Complicado mesmo é conscientizar todo mundo. “É difícil fazer com que as pessoas sigam as normas. A pandemia trouxe uma mudança de hábitos. Mas a população tem memória curta. E a educação precisa ser constante.”



Fonte: Você S/A


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