Publicado por Redação em Mercado - 09/06/2021 às 11:11:20

CDOs: como os heads de diversidade viraram a bola da vez no mercado corporativo



Embora o número geral de contratações de executivos C-Level no mundo tenha caído 18% no último ano, segundo dados do LinkedIn, uma das posições foi capaz de crescer 51% no mesmo período: a dos CDOs (chief diversity officers). Responsáveis por promover estratégias que aumentem a diversidade, a equidade e a inclusão nas empresas, os head of diversity, diretores de diversidade ou chefes de inclusão, como também são chamados, mais do que dobraram nos últimos cinco anos, de acordo com a rede de network desenvolvida especialmente para profissionais. 

A guinada na profissão tem motivo: uma pesquisa do último ano da McKinsey & Company, grupo de consultoria estratégica,  mostrou que empresas com quadros diversos de colaboradores são capazes de lucrar até 33% a mais do que seus pares menos preocupados com esse aspecto de suas operações. Mais do que somar na conta bancária, entretanto, o CDO carrega um papel social de peso nas companhias, trazendo à tona diálogos sobre temas como combate ao racismo, homotransfobia, violência contra a mulher, capacitismo e xenofobia, entre outros.

O que faz o CDO?

“O chefe de diversidade é uma pessoa com capacidade analítica e crítica para apoiar o processo de educação na empresa, mantendo esses  temas na agenda executiva e estimulando o engajamento de toda a equipe na construção da cultura inclusiva através das práticas, comportamentos e atitudes diárias”, diz Esabela Cruz, head de diversidade e inclusão do Mercado Livre no Brasil e autora do e-book “Quem Quer Ser Especialista em Diversidade e Inclusão?”. Abordar esses tópicos no meio corporativo brasileiro, onde apenas 0,7% dos negros ocupam cargos na alta liderança, de acordo com uma pesquisa do Vagas.com, traz outros desafios para quem almeja a posição. A head de diversidade da L’Oreal Brasil, Renata Dourado, explica que a profissão envolve conversas e cobranças difíceis. “Os temas são sensíveis e complexos. Falar sobre eles ajuda a desconstruir tabus e estimula a criação de soluções em conjunto”, afirma. 

Na prática, é uma posição que pode atuar tanto diretamente com o setor de recursos humanos, quanto em consonância com questões relacionadas a talentos, processos, comunicação e cultura, como é o caso da Electrolux, onde trabalha Lorenna Oliveira, supervisora de diversidade, inclusão e responsabilidade social para América Latina. “Tudo isso tem sido desenvolvido colocando as pessoas no centro e pensando em como podemos promover melhores experiências – mais diversas e inclusivas – para colaboradores, líderes, consumidores, parceiros e membros da comunidade. Como uma mulher negra, bissexual, nordestina e umbandista, sinto muito orgulho e otimismo em estar à frente dessa área, podendo contribuir com essas mudanças”, afirma Lorenna, acrescentando ainda que a companhia tem a meta de chegar a 35% de líderes mulheres até 2022.

Entre os grupos abordados pelos chefes de diversidade estão aqueles indicados pelos marcadores sociais de diferença, ou seja, aqueles considerados sub-representados ou marginalizados pela sociologia e antropologia. No Brasil, de acordo com Esabela, esse perfil inclui gênero, etnia, LGBTQIAP+ e pessoas com deficiência. Apesar disso, a executiva diz que algumas empresas já começam a discutir a inclusão de outros setores da sociedade, como refugiados, imigrantes, ex-presidiários e profissionais mais velhos, normalmente acima dos 50 anos. “Esses grupos são invisibilizados, mas não são minoritários. Mulheres representam 51% da populaçao brasileira, negros 56%, pessoas com deficiencia 25%. Minoria é a homogeneidade de ser homem, branco, hetero, cisgênero – justamente quem ocupa os cargos mais altos nas organizações. Essa é a ironia”, afirma a executiva. 

Diversidade é liderança

Lidar com vieses inconscientes, discriminação, preconceito – tudo isso demanda uma parceria firme entre o CDO e a liderança da empresa. E para quem aposta nessa aliança, os resultados não demoram a aparecer. É o caso do Itaú Unibanco, que optou por um processo seletivo diferenciado para a turma mais recente de trainees. Ao se aproximar de coletivos e garantir a representatividade dos avaliadores em sala, a empresa obteve números expressivos de diversidade – 63% de mulheres e 50% de negros aprovados. No caso dos últimos, apenas 8% foram contratados no processo do ano anterior. “Um dos desafios é aumentar a representatividade em todos os níveis da hierarquia da empresa, incluindo a alta liderança. Isso passa por construir na empresa um ambiente de respeito e seguro para todas as pessoas”, conclui Maria Júlia Azambuja, superintendente de atração & seleção e diversidade do Itaú Unibanco. 

Já na L’Oréal Brasil, onde o cargo de diversidade foi criado em 2014, as mulheres representam hoje 53% do time de liderança e 64% do time funcional. Com proporções parecidas, o Mercado Livre conta, atualmente, com 40% de executivas na alta chefia e 45% de funcionárias em todo o grupo. Números como esses são cada vez mais ambicionados pelas empresas que notam as mudanças de comportamento do mercado. “É uma questão ética e até mesmo de competitividade. É por meio de ações de diversidade que se adiciona qualidade de vida e, por consequência, produtividade às atividades da empresa. A posição deixou de ser apenas tática para se tornar estratégica”, afirma Maria Júlia.

De acordo com outra pesquisa do LinkedIn, companhias com uma equipe voltada para a diversidade têm até 22% mais chances de serem vistas como líderes do setor pelos consumidores. “O mercado brasileiro já entendeu que diversidade não é somente justiça social, mas um imperativo de negócio. Seguirão competitivas as empresas que conseguirem ter uma agenda de diversidade, equidade e inclusão cascateada para todos os níveis e áreas”, afirma Esabela. 

Brasil é considerado potência de D&I

Em território nacional, o mercado corporativo começa a acelerar em direção a pautas inclusivas. Segundo Maira Reis, fundadora da camaleao.co, uma startup que desenvolve soluções pró LGBT+ para empresas, os cargos voltados para diversidade estão chamando cada vez mais atenção das grandes companhias. “As empresas estão começando a despertar para essa mudança, mas ainda tem muito trabalho pela frente”, diz. A jornalista ainda afirma que o momento é bom para quem quer ingressar na área, já que faltam profissionais qualificados para atender à demanda atual. 

De acordo com a  supervisora da Electrolux, a área acaba exigindo conhecimentos multidisciplinares que vão desde técnicas de gestão até as soft skills. Já para a head do Mercado Livre – que também é criadora de um programa de mentoria de liderança inclusiva para novos profissionais desse setor – os CDOs devem se manter atentos às transformações do futuro do trabalho para continuarem relevantes. 

Para as especialistas, o cenário brasileiro está mais aquecido do que nunca. Se alguma parcela da liderança antes considerava os tópicos sociais como mero “hype”,  a movimentação atual das companhias para trazer objetivos mais maduros e consolidados  mostra o contrário. 

“O Brasil tem todo o potencial para ser referência na área de diversidade e inclusão. Temos uma população muito diversa e muitas questões sociais para serem endereçadas. O mercado está abrindo muitas oportunidades para líderes de D&I e entendo que a tendência é que cada vez mais essas posições sejam uma constante nas organizações. O tema veio para ficar”, finaliza Renata Dourado.



Fonte:  Forbes Brasil


Posts relacionados

Mercado, por Redação

Setor de planos de saúde fecha 2024 com números recordes de beneficiários

No ano passado, foram 52,2 milhões de beneficiários em planos de assistência médica e 34,5 milhões em planos exclusivamente odontológicos

Mercado, por Redação

Como a IA está redefinindo a liderança corporativa

Inteligência artificial desafia métodos tradicionais da gestão de empresas e aponta para transformação; veja como se preparar.

Mercado, por Redação

Metade das competências profissionais serão irrelevantes em 2025, diz estudo

Com o avanço da inteligência artificial, até mesmo altos executivos estão preocupados com a absorção das suas tarefas pela tecnologia

Deixe seu Comentário:

=