Publicado por Redação em Gestão do RH - 07/04/2020 às 15:45:13

As companhias vão voltar ao modo de trabalho tradicional



Nenhuma grande transformação no modo de trabalhar ocorrerá necessariamente por conta da pandemia provocada pelo coronavírus e da adoção em massa do home office pelo mundo. Passada a crise, muitas empresas devem retornar à forma de emprego tradicional. “Ou voltamos a um trabalho típico ou elas vão ter que fechar”, afirma Peter Cappelli, diretor do Centro de Recursos Humanos e professor de administração de Wharton, escola de negócios da Universidade da Pensilvânia.

Para ele, onde é possível trabalhar em casa, a maioria dos empregadores já implementou ferramentas, e não é preciso muito: “basta uma conexão de internet e o acesso aos arquivos da empresa”. O que virá depois é alguma padronização. “Se estivessem interessadas, as empresas já poderiam ter aprendido o que funciona ou não no trabalho remoto”, diz.

Dizer que as pessoas gostam de trabalhar em casa, segundo ele, é um mito. Vantagens como a economia no aluguel do escritório também se contrapõem à necessidade da proximidade para o gerenciamento ágil de projetos. Mas estar no escritório não é garantia de bom desempenho, talvez a crise force as empresas a medir melhor o desempenho das pessoas. A seguir os principais trechos da entrevista ao Valor, por e-mail:

Valor: Estamos antecipando em alguns anos a transformação digital nas empresas com essa crise?

Peter Cappelli: Acho que muitas empresas não esperam fazer grandes investimentos nas habilidades para trabalhar em casa. Ou voltamos a um trabalho típico ou elas vão ter que fechar. Elas não podem prever quais serão as restrições, então apenas vão esperar, o que é sensato. Grande parte do trabalho que pode ser feito em casa não precisa de nada além de conexões com a internet e acesso aos arquivos da empresa. Onde é possível trabalhar em casa, a maioria dos empregadores já implementou ferramentas.

Valor: Esse teste de emergência com o modelo digital pode ajudar a diminuir o preconceito e o medo dos profissionais em tentar novos formatos de trabalho?

Cappelli: O que resultará disso, acredito, serão políticas mais padronizadas sobre o trabalho em casa. Atualmente, na maioria das empresas, cabe ao gestor local decidir o que fazer com base em suas próprias opiniões e não em qualquer evidência sistemática sobre o que funciona melhor. Acho que vamos tirar essa descrição local.

Valor: Depois da crise, boa parte dos funcionários poderá continuar remota? O que prevíamos para o chamado “futuro do trabalho” está acontecendo agora?

Cappelli: Muitas pessoas não querem trabalhar em casa. Eles têm distrações lá, membros da família, eles não gostam e assim por diante. Os argumentos para fazê-lo - economizar com o aluguel de escritórios - já existem há muito tempo. Existem novos argumentos contra, como o gerenciamento de projetos ágeis. A ideia de que é simplesmente melhor trabalhar em casa ou que todo mundo quer fazer isso é um mito. Se estivessem interessadas, as empresas já poderiam ter aprendido o que funciona ou não no trabalho remoto. As pessoas podem e se divertem no trabalho: mas estar no escritório não é garantia de bom desempenho. Talvez essa experiência remota de agora force os empregadores a pensar mais seriamente sobre o bom gerenciamento de desempenho: o que queremos que as pessoas façam e como mediremos.

Valor: Em uma crise como essa, novos líderes podem surgir nas organizações. Como as empresas podem reconhecê-los?

Cappelli: A única maneira de isso acontecer é se muitas pessoas saírem do trabalho e novas pessoas tiverem que avançar. Isso vai acontecer? Não enquanto as empresas estiverem encolhendo. O que as empresas vão fazer é revisar quais funções são essenciais ao decidir quais trabalhos podemos realizar de casa.

Valor: Em setores como o de manufatura, serviços e outros que não podem funcionar remotamente, o que pode mudar para os trabalhadores? Imaginando que todos os empregos e relações no trabalho serão afetados por esta crise.

Cappelli: Eles serão demitidos - simples assim.

Valor: Como as empresas podem usar essa crise para criar laços mais fortes com seus funcionários?

 

Cappelli: Simplesmente, elas devem pedir ajuda a seus funcionários - precisamos que você passe por isso - e eles também devem contar a eles - cuidaremos de vocês agora e depois.

Valor: Nestes dias, o departamento de TI estará mais perto de todos na empresa. Como melhorar a relação deles com os funcionários e vice-versa?

Cappelli: Bom ponto - até agora atravessamos o escritório para fazer perguntas. Quando temos que lidar com eles por e-mail, fica muito mais difícil, o que requer melhor comunicação e habilidades interpessoais, nenhum dos lados precisava tanto disso antes.

Valor: A recessão acontece hoje em tempo real, como as empresas devem se comunicar com seus funcionários? Quão transparentes devem ser sobre a operação para evitar o pânico e a ansiedade?

Cappelli: O pior é não contar o que está acontecendo, porque, em seguida, eles criam suas próprias respostas, que geralmente são muito piores que a verdade. Se não sabemos, devemos dizer isso a eles.


Fonte: Valor Econômico


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